sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Corridas do Minho



O número um da Ilustração Católica (5 jul. 1913) inaugura com uma série de imagens de acontecimentos da vida nacional, de recantos de Braga (S. João da Ponte e Bom Jesus) e de dois acontecimentos da vida bracarense: o Circuito do Minho e as festas de S. João. 
Das festas ao santo, publica-se a capela do precursor e um “aspecto das illuminações e ornamentações na avenida do Parque da Ponte”, imagens do fotógrafo Mira Neves.
Do Circuito do Minho, corrida de “automóveis, motocycletas e bicycletas” promovida pelo Jornal de Notícias, que aconteceu a 8 de maio de 1913, fotografou-se a passagem dos automobilistas e ciclistas desde a esquina da rua dos Chãos com a Praça da República. 
Carlos Fernandes foi o primeiro ciclista a ser apanhado pela máquina do “hábil amador bracarense” José Ernesto Esteves. Ficou em primeiro lugar na categoria dos Fortes. No grupo dos Fracos, Alberto Fernandes, de Avelãs de Caminho, obteve o primeiro prémio, tendo feito o circuito em quinze horas e oito minutos. O prémio “d’economia”, o que quer que isto queira dizer, foi para o primeiro automobilista a passar na rua dos Chãos: António Casal. Curiosamente, o primeiro prémio de velocidade foi atribuído a Cincinato da Costa, o segundo a passar na cidade.
Esta terá sido a segunda edição do Circuito do Minho, organizado apenas um mês e meio da primeira. Conta-se que a ideia para a realização do I Salão Automóvel (Porto, 1914) surgiu após a realização deste Circuito, no final do qual os veículos que nele participam foram expostos no Palácio de Cristal do Porto.

BASSO, Catarina Miranda - Corridas do Minho. 
http://cochinilha.blogspot.pt/2012/12/corridas-do-minho.html


[a cochinilha no Braga Semanário]


Circuito do Minho, José E. Esteves, 1913.




o tempo da imagem

o tempo da imagem by cochinilha











É já amanhã, sábado 29, às 22h30, que inaugura na Velha-a-Branca, uma improvável exposição de fotografia de arquivo, ao som da Velha & Louca, uma das comissárias da mostra!

Não preciso de dizer para aparecerem, pois não?



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

matraca de pau



"E à frente do lugubre cortejo, soam as palhetas roucas do ruge ruge, raspando estridentemente o ar, riscando os nossos ouvidos. Outr'ora precedia este devoto cortejo uma brava malta que se encarregava de fazer publico exame de consciencia aos pavidos bracarenses, semi-ocultos nas trevas da noite, e eram acusados, deante de todos, de alguma picardia ou irregularidade que mais lhes aprazia se conservasse em segredo". Já não há esta costumeira, "mas ainda o ruge ruge faz ouvir os seus roucos rugidos". É assim que esta matraca de pau agitada pelos farricocos recorda pela tradição oral o que o seu som estridente anunciava...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

grande plano geral

Chama-se plano geral - grande plano e é a última exposição do Reimaginar Guimarães.
São cinco painéis com filmes feitos a partir de imagens fotográficas da colecção de fotografia da associação Muralha.
São, mais uma vez, planos gerais e grandes planos de fotografias, oferecidos com um determinado tempo de visualização.

Somos, mais uma vez, conduzidos (mas não obrigados), a ver e a rever (quantas vezes quisermos) o pormenor do grande plano e o plano do pormenor: duma narrativa construída a posteriori, da família que envelhece no estúdio do fotógrafo, das telas que enquadram as famílias e que deixam entrever os que dela queriam fazer parte, da folia (acompanhada de música) e das 4500 imagens que fazem parte da colecção.


É, mais uma vez, uma exposição onde o imaginário tem lugar de primeira ordem.
E mais não digo, porque não queria que acabassem nunca estas "exposições" de fotografias de arquivo que não são exposições de fotografias de arquivo.


na Casa da Memória, até 24 de fev. de 2013
Avenida Conde de Margaride
Guimarães

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

invencíveis!

Há anos que me intrigam as pequenas notícias que são publicadas nos jornais da primeira década do século XX acerca dos invencíveis. Intrigam, porque não se explica que grupo é este - apenas que fazem sessões de cinema, sauraus e etc - e porque gosto do nome. Invencíveis. Descobri hoje que a colectividade se chamou antes "grupo dramático beneficiente união". Ainda bem que mudaram de nome. O seu fim é mesmo o que tinha calculado, por outras palavras: "promover festas e attractivos que possam chamar ao nosso meio um certo numero de forasteiros concorrendo d'esta forma para o engrandecimento d'esta antiga e nobre cidade dos arcebispos". Os Invencíveis proporcionavam aos associados alguns passatempos na sua sede (local ainda desconhecido), como a leitura e jogos.

Em 1907 foram eles que promoveram o "cortejo nocturno" nas "festas joanninas", para o qual compraram "um esplendido carro triumphal". Mas os sócios estavam mesmo animados era com a realização do "cortejo luminoso, que deve produzir um effeito deslumbrante". E assim se abrilhantaram as festas ao São João.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

amor aéreo



No verão de 1924 a imprensa bracarense publicou uma "recomendação" curiosa aos leitores: nas festas da Avenida, dias 5 e 6 de julho, para que os festejos se revestissem de maior brilho, todos deviam possuir o querido “Balão Amor Aéreo”, o "único que consegue cativar os corações apaixonados quando ele seja oferecido ás donzelas que os cavalheiros admiram e pretendem conquistar. É pois a única ocasião de aproveitar", porque, além do mais, apareceria também o célebre cinema movente! Como gostava de sobrevoar 1924 num balão aéreo... ou ser donzela admirada por cavalheiro... Bem, mas o que interessa mesmo, é que hoje, dia 12 de Dezembro de 2012 o meu mais novo faz seis anos! E que, para conquistar um amor, só é preciso saber amar. Como é que se sabe? Não sei, ama-se sem medo de amar?


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

cidades


Há um coração no desenho da cidade. Consegues ver?



Maria do Carmo Franco Ribeiro - Braga entre a época romana e a Idade Moderna. 
Dissertação de Doutoramento em Arqueologia. Braga: U. Minho, 2008.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Se por acaso me vires por aí

Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
Diz que não pode ser, diz que eu morri
Num acidente qualquer
Conta o quanto quiseste fazer
Exalta a tua versão
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão
E ouve-se ao fundo uma linda canção
De paz e amor

Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé
Encaixotei uns papéis e não sei
Se hei-de deitar tudo fora
Tenho uma série de cartas para ti
Todas de uma tal de Dora
E ouvem-se ao fundo canções tão banais
De paz e amor


Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim
E ouve-se ao fundo uma velha canção
De paz e amor

Na sexta-feira acho que te vi
À frente da Brasileira
Era na certa o teu fato azul
E a pasta em tons de madeira
O Tó talvez queira te conhecer
Nunca falei mal de ti
A vida passa e era bom saber
Que estás em forma e feliz
E ouve-se ao fundo uma triste canção
De paz e amor.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

semanário bracarense


O número um da Ilustração Católica saiu a 5 de Julho de 1913. A apresentação da revista sugere objectivos e delineia metas - a primeira das quais é a de ocupar um lugar no seu tempo, que é de reorganização católica. Iniciativa de Joaquim António Pereira Vilela, a Ilustração inscreve-se no contexto do apostolado da boa imprensa que se seguiu à implantação da República. Propõe-se fazer a informação gráfica dos acontecimentos da vida nacional (principalmente dos factos da acção religiosa), mostrar temas de pintura, escultura e os retratos dos nossos homens célebres, com destaque para a literatura católica. Esta “revista litteraria semanal de informação graphica”, foi publicada com continuidade até 1919, tendo sido interrompida no período que vai de Maio de 1919 até 1927 e renascido entre 1928 e 1929.


Fabuloso repositório iconográfico do contexto nacional e internacional, à Ilustração Católica iremos buscar, de quando em quando, para trazer ao Braga Semanário, alguns acontecimentos da vida social bracarense.
            [a cochinilha vai ao Braga Semanário]

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

um para o outro

um para o outro by cochinilha
um para o outro, a photo by cochinilha on Flickr.
Ali, onde os galos olham um para o outro, fica o lugar onde a aldeia ficou adormecida dentro da cidade. Construída a EXPENSIS PUBLICIS ANNO 1639, a fonte dos Galos deu o nome a esta zona adormecida pelo pequeno caudal do rio Este, que já teve peixe, muito peixe, moinhos de farinha, azenhas e mós, lavadeiras e roupa a corar, uma fábrica de papel e mesmo banhos públicos, em virtude das águas férreas que aí brotavam.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Festa da Flor

Festa da Flor by cochinilha
Festa da Flor, a photo by cochinilha on Flickr.
"Como estava annunciado, realizou-se sabbado, n’esta cidade, a Venda da Flor em beneficio das victimas da guerra. A Venda da Flor prolongou-se por todo o dia, constituindo mais uma nota animada nos festejos sanjoanninos. No Bom Jesus do Monte e arrabaldes da cidade, a Venda da Flor realizou-se domingo."
junho de 1917


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

convertida

Convertidas, Novembro 2012.










Cheirava a álcool, estava velha e encarquilhada.
A mentira, a raiva, a vergonha tinham dado cabo dela e impregnaram o seu corpo, o que é o mesmo que dizer que o estuque e a tinta do tecto pendiam como estalactites do seu rosto magro.
Ultrapassei os meus limtes e tenho de me preservar, she said.
Sem filhos, é muito fácil. É só dizer: A Deus!


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

projectar convertidas

Convertidas, Novembro 2012.

O Recolhimento de Santa Maria Madalena e de São Gonçalo (XVIII), mais conhecido como Casa das Convertidas - classificado como Monumento de Interesse Público há um mês atrás - foi tema de debate da primeira iniciativa da associação Braga Mais. Centrado no destino a dar ao edifício, o debate contou a presença de Hugo Pires (vereador, pelouro de Gestão Urbanística e Renovação Urbana), de José Araújo (ex-governador civil), de Manuela Sá Fernandes (do Grupo Gonçalo Sampaio) e de Carlos Aguiar Gomes (da Associação Famílias), para além duma plateia de cidadãos anónimos e de figuras políticas de vários quadrantes. 

Espero que este tenha sido o primeiro de muitos, sobre o edifício, e que a solução para travar o seu desabamento não seja movida por outros interesses que não o da sua salvaguarda. A importância do edifício exige-o.

Para satisfazer a sua função original - a do recolhimento de mulheres arrependidas dos seus erros, e convertidas a Deus - o edifício foi concebido em torno de um pátio interior, para o qual estavam voltadas as celas e demais dependências. Um edifício voltado para dentro, de costas voltadas para a rua.

Fazendo perdurar a função social para o qual foi concebido, o edifício foi habitado até há cerca de 10 anos por mulheres idosas, carenciadas. O resto da história já se sabe. Discute-se agora o fim para o qual deverá o edifício ser convertido. Confesso que tenho muito medo do que venha aí (medo, principalmente, dos incêndios).

A tipologia do edifício permite que aí se instalem equipamentos de cariz social, como um lar, sim senhor, mas não serviços técnicos administrativos ou mesmo um museu "qualquer" - seja da história da cidade, da cultura imaterial ou do folclore.
Poderá funcionar como pousada, se e apenas se, a reabilitação do edifício se fizer de acordo com os princípios que tutelam a conservação e restauro dos bens móveis e imóveis: o respeito pelo original, a intervenção mínima, a compatibilidade de materiais e o da reversibilidade.
(e não digam que 5 metros quadrados não chegam para pernoitar)

Não faltam em Portugal exemplos bem sucedidos duma intervenção deste tipo (de que o Mosteiro de Tibães será apenas um dos casos) que permitiriam aqui manter a sua função de cariz social (recolhimento) e religiosa (capela), assim como preservar a história da memória da intimidade feminina.

Consultem-se os investigadores da história da cidade (e das mulheres) e os peritos da conservação do património, peça-se autorização para consolidar estruturas para que o edifício não esmoreça, devolva-se a vida à capela (entregue-se a capela à Igreja!), ouçam-se os cidadãos.
Solicite-se ao MAI a tutela do edifício, não sem antes garantir condições para cuidar desta pérola preciosa.

Convertidas, planta do 2.º piso.




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

birdies

home sweet home, a photo by cochinilha on Flickr.

Depois dos Birds Are Indie terem encantado quem os viu e ouviu na Velha-a-Branca, lembrei-me desta instalação que está no Museu dos Biscaínhos, cá em Braga, de uma biblioteca para pássaros, no ramo de uma árvore. Sítio perfeito para namorar, ouvir, observar, cantar, ver os pássaros pousar... ou ouvir esta delícia.





"Birds Are Indie são um rapaz e uma rapariga que se apaixonaram há 12 anos.
Nenhum deles sabe cantar ou tocar particularmente bem. Ainda assim, cantar e tocar, parece fazer-lhes bem. É um projecto absolutamente pouco profissional, rudimentar, pouco afinado, nada virtuoso, mas cheio de amor."

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Casa Pelicano

Casa Pelicano, 1940.







Em 2005, Maria Teresa Pelicano doou o espólio do estúdio de seu pai, a Casa Pelicano, ao Museu da Imagem da cidade de Braga.
A Pelicano ficava ao largo Barão de S. Martinho, ao lado da Brasileira. Para além do serviço próprio de um estúdio fotográfico profissional, a Pelicano vendia material para a fotografia e revelava e ampliava as experiências dos amadores.
Na Casa Pelicano trabalhou o fotógrafo Arcelino.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Piano, piano, si va lontano...

Convertidas, Novembro 2012.
Por mais do que uma vez nos referimos aqui a uma antiga tendência da cidade de Braga em desprezar o passado e o que resta dele, assim como às obras de requalificação urbana que estão a ser realizadas na cidade.

Hoje, a propósito de mais um pertinente artigo publicado por Eduardo Pires de Oliveira no Diário do Minho, deixamos os conselhos da redacção do Comércio do Minho, de há 101 anos.

Recomendava-se prudência na empreitada do progresso para a cidade, para o qual se devia “caminhar cautelosamente, com a consciência segura de que cada passo a dar é o melhor, e não cegamente ou sob a obsessão de uma ideia incompletamente amadurecida”.
O grandioso casarão (obra de Marques da Silva que devia servir as repartições públicas) via-se condenado pela impropriedade do local, o edifício para Theatro Circo, em construção na cerca dos Remédios era mal visto por alguns; o edifício da cadeia, incompleto, aborrecia a outros, que o não queriam ali:


"Que espírito de previdência foi o nosso, que não calculou os prós e os contras antes de emprehender taes obras?
Que confiança podemos inspirar quando pedirmos alguma coisa ao poder central, depois de termos dado provas de tanta versatilidade?
Que garantias podemos offerecer de que pedimos o que mais nos convém, se até aqui não temos sabido pedir?
Cuidado, pois. Mesmo no arrazar é indispensável prudência.
Para a frente, mas devagar, para não se ter de voltar atraz e perder caminho.
Devagar, para ir longe.
Pianno, piano, si va lontano.
Nada de precipitações, que mais tarde trazem o arrependimento.
Arrazem-se! – gritam.
Ora para se chegar a tal conclusão, não era preferível não os ter começado?...
Agora, depois de tanto dinheiro gasto, ha-de ficar todo o trabalho inútil? Arrazar, arrazar depressa; depois é preciso edificar, substituir; para isto, requer-se dinheiro; para o obter, exige-se credito; para gosar d’este, demanda-se capacidade administrativa.
Ora se nós localmente dermos testemunho de incapacidade, nem o governo, nem ninguém terá confiança no nosso destino, e as solicitações que fizermos não encontrarão boa acolhida.
Se queremos progredir a valer, havemos de caminhar devagar, com juízo, com methodo. Concluída uma obra, iniciaremos outra, e assim successivamente.
Tudo a um tempo, não póde ser".

sábado, 17 de novembro de 2012

viver bem

Andar, dormir, trabalhar, comer, beber, falar, escrever, fazer, contar, estimar... e fumar!

Diário do Minho, 1927.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

SMS na revista de Guimarães

 sede da SMS


A Sociedade Martins Sarmento disponibiliza na rede uma série de artigos em pdf sobre a SMS que foram publicados na Revista de Guimarães - uma das mais antigas e prestigiadas publicações periódicas portuguesas de carácter científico, que se publica desde 1884.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ruge-ruge



ruge- ruge
in exposição de instrumentos tradicionais portugueses



Noite cerrada, saía da igreja da Misericórdia a procissão das Endoenças.
Pouco a pouco, apagadas todas as luzes no interior das casas, as varandas e as janelas iam-se enchendo de figuras escoadas a medo na tinta da noite.
Mas já ao longe se ouvia um estranho vozear de multidão e incertos fogachos de lumieiras se agitavam, sinistros, na treva espessa: era a ronda dos fogaréus – temido bando popular, precedendo a procissão, que tinha a essa hora de severas contas o inaudito direito de acusar uma cidade inteira...
Por isso as almas, as mais lavadas, estremeciam ao sentir aproximar-se esse Bando do Pavor, permitido pelo alto clero com o fim de, à falta de denúncias à inquisição, ser ele, uma vez no ano, o pelourinho andante das mais escondidas vergonhas.
Passado o bando e extinto ao longe o último sussurro da turba atroadora, a contrastar com essa algazarra, aparecia, solene e fúnebre, a silenciosa procissão.
Empunhando tochas passavam os irmãos da Misericórdia (de um lado os nobres, do outro os plebeus) cobertos com os capuzes das suas opas negras... passavam farricocos vestidos de roxo com cordas à cintura e pés descalços.
E tudo era lento e silencioso; somente, de onde em onde, se ouvia taramelar o estrondoso ruge ruge, chamando à penitência os que não tinham ainda ido à desobriga da confissão quaresmal!
E as almas, meditando em seus pecados e na morte certa, penetravam-se de medo!

(adaptado de Antero de Figueiredo)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

amor em tempo de guerra

Ilustração Portuguesa, Abril de 1917.
Joshua Benoliel

À partida para França: uma despedida afectuosa, é o título desta imagem que foi capa da Ilustração Portuguesa. Foi feita em 1917, no meio de tantas outras que representam a partida dos soldados portugueses para a guerra e que enchem as páginas da Ilustração: da Portuguesa e da Católica.
É um crop da fotografia do mestre Benoliel, porque são estes dois que me interessam.
Não terá sido encenada, mas levou-me para o beijo do Hotel de Ville.
É um casal. Um casal em tempo de guerra.
Não, não é paixão, é amor. É medo de perder.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

leram ou não leram?

Há 101 anos atrás, em resposta à pronta acção do governo provisório em promulgar medidas que afastassem a Igreja do Estado, os Bispos redigiram uma pastoral que deveria ser lida ao clero e fiéis na missa dominical. Escrita em dezembro de 1910, publicada e divulgada em fevereiro de 1911. As autoridades não gostaram e pediram aos Bispos que suspendessem a leitura do documento. Uns leram, porque não tinham recebido a contra-ordem de quem de direito, outros não leram porque acataram a ordem de Afonso Costa, outros leram porque quiseram, e António Barroso demorou a suspender a leitura da pastoral em toda a diocese do Porto. António, Bispo do Porto, limitou-se a suspendê-la dentro dos limites da cidade... o que lhe valeu o desterro durante dois anos.

sobre a Pastoral Colectiva do Episcopado, fevereiro 1911.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Júlio António de Amorim Lima



retrato da família de Júlio Amorim Lima.
Photographia Alliança, Braga, 1916


in Aliança Pixit, rubrica semanal publicada no
Correio do Minho, ano 75, n.º 7683 (28 Nov. 2009), p. 14.





sábado, 3 de novembro de 2012

fotógrafos, títeres e outros sonhadores


No início de 2010 a cidade de Évora teve a oportunidade de conhecer a história da sua cidade por intermédio dum projecto educativo pensado pelo Arquivo Fotográfico Municipal: um espectáculo de marionetas intitulado “Fotógrafos, Títeres e outros Sonhadores, Évora e a História da Fotografia”.



 

Jean Laurent e o seu carro-laboratório.
© António Carrapato
Breve resenha dos momentos e figuras ligadas aos primeiros anos da chegada da fotografia a Évora, o espectáculo teve por base algumas das figuras típicas dos Bonecos de Santo Aleixo às quais se juntaram alguns dos pioneiros da fotografia.
Ulisses d’Oliveira, um dos primeiros fotógrafos viajantes a fixar-se com regularidade em Évora, Jean Laurent, exemplo da passagem pela cidade dos grandes fotógrafos estrangeiros e Maria Eugénia Reya Campos - que se intitulava a "primeira mulher phographa portuguesa", entre outros.

A concepção do espectáculo inspirado na tradição dos títeres alentejanos (marionetas de pau e arame) foi da responsabilidade do Arquivo Fotográfico Municipal, juntamente com o marionetista Manuel Dias e o apoio da Estação Imagem e da Companhia de Actores dos Bonecos de Santo Aleixo.

Deste feliz "encontro" entre titeriteiros e daguerreotipistas, ambos profissionais ambulantes, ficou memória AQUI.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

terceira

"A fotografia terá surgido nos Açores por intermédio de estrangeiros quando
realizavam  viagens  pelas  principais  ilhas.  No  caso  da  ilha  Terceira,  as  primeiras
referências conhecidas reportam à passagem de um estrangeiro pela cidade de Angra
que fazia retratos pelo processo de Daguerre, na Rua do Cruzeiro, em 1846"
Carlos Enes



Lançamento a 29 de outubro de 2012. 
Que pena os Açores ficarem tão longe!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ama-se e pronto!



O Rui apresentou domingo publicamente a associação Braga +, na Torre de Menagem da cidade de Braga. Estava cheia a sala do último piso da Torre. Cheia de amigos - para além dos representantes de alguns partidos políticos da cidade. Amigos e amantes da cidade de Braga, que partilham um mesmo interesse - a preservação da memória.

A associação foi apadrinhada por Miguel Bandeira - que abriu a apresentação, com um discurso delicioso, como vem sendo hábito deste grande senhor. 
Miguel Bandeira, mas também Rui Ferreira, conseguiram emocionar os presentes, deixar em todos um sorriso nos lábios e o pensamento de que, todos, podemos fazer alguma coisa para que a história se escreva de outra forma daqui para a frente.

A história que é preciso conhecer para que saibamos valorizar o património, e para não cometermos erros do passado. Por isso a escolha da Torre de Menagem - que restou da demolição do Castelo em 1905, e sede da ASPA - não podia ter sido mais acertada. Porque representa, para além da evocação da nacionalidade, a história da história da defesa do património de Braga.

Do discurso do Rui, é de reter a afirmação de que "este não é um projecto partidário, liderado por qualquer facção política ou ideologia social. Este é, sim, um projecto político, no mais escorreito sentido deste termo e na sua mais bela expressividade. Somos para a “polis”, o lugar dos cidadãos e por essa polis nos unimos para debater, propôr e reflectir." Porque não são apenas os decisores políticos que constroem a cidade - somos todos nós - cabe a cada um participar mais activamente na sensibilização para a memória da cidade, na senda do "trabalho de cultura low-cost e de sensibilização para o património que vem sendo desenvolvido por diversas associações que, voluntariamente, se dedicam à memória bracarense", como a Velha-a-Branca ou a JovemCoop, e que dão azo um dinamismo que não necessita de orçamentos milionários ou de multidões mediáticas. O Rui, o Carlos, o Ricardo, e mesmo o Luís - não se podem mais queixar de estarem sozinhos.

Os amantes de Braga têm um sonho - um museu da cidade de Braga. 
Muito simplesmente porque "Braga é daquelas cidades que não se pode descrever. Ama-se e pronto!"


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

notas para uma história futura

passado e futuro by cochinilha
passado e futuro, a photo by Arquivo Aliança | Museu da Imagem|Câmara Municipal de Braga

A história do Arquivo Aliança está a ser escrita. A história dos estúdios fotográficos bracarenses também será escrita. Devemos a Luís Dias Costa a existência dos arquivos de Manuel Carneiro e do fotógrafo Arcelino, propriedade da ASPA, em depósito no Museu Nogueira da Silva. Devemos ao Luís, também, e entre tantas outras coisas, um pouco da história do Museu da Imagem:

"[...] Entretanto, Luís Mateus, deixou a Câmara, e o espólio que estava recolhido, em péssimas condições, num lugar húmido, numa pequena dependência da Casa dos Crivos foi, praticamente, redescoberto e perante o valor que tinham essas recordações da velha cidade alguém [...] sugeriu em boa hora que a Câmara se interessasse em criar um MUSEU DA IMAGEM, na cidade, o que veio a acontecer com a sua instalação, no Campo das Hortas, junto ao Arco da Porta Nova. E assim Braga pode recordar tempos idos através do espólio da velha FOTOGRAFIA ALIANÇA, no Largo dos Penedos."

Está aqui tudo o que nos contou acerca da criação de um museu pensado para albergar este precioso espólio da memória da cidade de Braga.



domingo, 14 de outubro de 2012

manoel carneiro

Bilhete postal ilustrado, 1903. 
Edição: Manoel Carneiro. 
Cortesia: Pedro Barros.






a cochinilha estreou-se 
nos postais ilustrados

ver aqui!

sábado, 13 de outubro de 2012

lisboa em braga

anúncio de imprensa, 1927

Depois de Braga em Lisboa, afinal, acabei por encontrar sozinha uma Lisboa em Braga. Continuarei contudo a acalentar a esperança de que encontre, acompanhada, mais Lisboas em Braga que não existe. Porque, na verdade, a dois, é muito mais divertido (mesmo sem o corte perfeito, a exímia execução e o meticuloso acabamento).


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

modos de ver

Teve hoje lugar no Salão Nobre da Reitoria uma mesa redonda subordinada ao tema modos de ver - os museus e os espaços de cultura, no âmbito da programação do Festival de Outono.
Carlos Corais e Isabel Cunha e Silva dos Museus Nogueira da Silva e D. Diogo de Sousa, e Manuel Sampayo do Paço de Guimarães (faltou Rui Prata, do Museu da Imagem), partilharam com a reduzida assistência as suas experiências na gestão dos diferentes espaços culturais. 
Já no fim do tempo, veio à baila a gigantesca diferença entre as duas capitais europeias, Braga e Guimarães, anuindo os bracarenses presentes com o facto de não poderem rivalizar com o ufanismo dos vimaranenses em relação à sua cidade. 
Gostava mesmo que os bracarenses sentissem a cidade como sua, mas a verdade é que o que é bom é viver Guimarães.

[Amanhã há Guelra, às três, no largo do Paço, e música, à noite, no Salão Medieval]

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Salão Recreativo

Salão Recreativo Bracarense by cochinilha
Salão Recreativo Bracarense, Arquivo Aliança | Museu da Imagem | C.M.B.

Foi primeiro Salão Recreativo Bracarense e depois Cinema S. Geraldo.
[Segundo Luís Dias Costa terá funcionado até 1950, data em que passou a cinema]
Hoje está ao abandono, numa praça da cidade recentemente regenerada.

programa do Salão Recreativo, 1927.


sábado, 6 de outubro de 2012

à flor da pele

a pele da Ana e da Sofia, 2002.


Conhecer um pouco mais profundamente a ex-namorada do ex-namorado pode ser algo extraordinário - ela sabe tão bem quanto nós o que sentimos, percebe exactamente o que queremos dizer. Não sabemos como é que as vidas se cruzam e se intricam umas nas outras, mas sabemos que está tudo à flor da pele. Por isso por mais que não queiramos que nada saibam de nós, o nosso corpo é indiscreto. A pele, por exemplo, em íntima ligação com o sistema nervoso, responde muito sensivelmente aos acontecimentos emocionais. E mesmo que não queiramos ligar às nossas emoções, elas encontram uma forma de falar por nós através da pele. E a pele chora.
Esta é a pele da Ana. Esta é a pele da Sofia. Duas raparigas que irradiam luz.



Esta pele é a da minha avó. Uma mulher que não fazia reserva dos seus sentimentos e que irradiava toda a força do universo. A pele da minha avó não chorava. Tão só porque não tinha medo de dizer o que sentia e mandava à fava todos os fantasmas - a única forma de encontrar espaço para sorrir a cada acordar e sentir que a vida é bela.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Santos Lima

Santos Lima, 1921.

Muitas vezes o trabalho de procurar nos periódicos o rasto deixado pelos fotógrafos é desesperante. Tudo muda quando há, de entre todos os anúncios e reclames, um que se destaca [não é o caso deste exemplo sóbrio publicado nas vésperas do Natal].
Enquanto a maior parte dos proprietários das fotografias de Braga da década de 20 procura atrair clientes, Santos Lima, o homem que rodou "Portugal da Saudade", é, até ao momento, o único que usa o jornal para dizer, de modo delicado, algo como "eh pah,  não me procurem mais para fazer os vossos clichés! "

Publicação em destaque

as fontes discretas

já no distante ano de 2009, Maria do Carmo Serén publicou um artigo sobre a minha tese de mestrado, a que chamou de " as fontes discre...