quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

postais profundos epidérmicos


  
Outro dia foi apresentado publicamente o livro (ou melhor, vários livrinhos numa mesma caixinha) que vou devorar assim que o tempo o permitir.
Tem por título "Portugal ilustrado em postais" e é uma das faces visíveis do projecto coordenado por Moisés Lemos Martins e Madalena Oliveira, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho
Porque a grande maioria das publicações ilustradas com postais existentes no mercado renega uma análise mais profunda deste precioso objecto gráfico, esta parece contrariar esta tendência.
Aliás, foi precisamente a questão daquilo que está à superfície ser, precisamente, o mais profundo, uma das mais enriquecedoras questões abordadas na apresentação pública desta pequena relíquia. Citando-se Paul Valérie, questionou-se a ideia comum de pensar que tudo o que é importante se situa a um nível profundo, subterrâneo, inacessível, quando, talvez, o que está à superfície (a epiderme, a imagem, a forma) seja o melhor reflexo do conteúdo, do profundo, da intimidade.

"o mais profundo é a pele"
Paul Valérie


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

amor e uma máquina de lavar roupa (ou o fim do amor e uma cabana)




hoje, em conversa com uma amiga, cheguei mais uma vez à triste conclusão de que todas as relações amorosas, as boas e as más, e mesmo as mais ou menos, têm em si algo de terrível, que é o seu fim.

mesmo as más, quando terminam, são sempre o fim de um qualquer projecto comum que não resultou e que trazem por isso sentimentos de culpa, fracasso e tristeza.

lembrei-me também da importância de um casal que coabita lavar a roupa na mesma máquina de lavar, como se a máquina fosse o lugar onde os dois (ou os três ou quatro) se misturam, sujos, e se purificam, em conjunto. por isso sempre que havia tensões a dois, a roupa dele era posta de lado, enfiada num saco e enviada para a mãe.

não quero misturas. a tua roupa suja és tu e eu não quero misturá-la comigo, na máquina da purificação.

um dia, ele fartou-se de não lavar roupa suja e saiu de casa, e ela ficou com saudades de ver as suas roupas misturadas e penduradas ao lado uma da outra a secar. e então só conseguia pensar no lugar onde, um dia, as suas peças e as dele estivessem penduradas ao sol lado a lado, depois de lavadas e misturadas e purificadas em conjunto.

aquela roupa lavada somos nós os dois - lavados, estendidos ao sol, juntos, prontos para um novo ciclo.

lavar a roupa suja é também trazer à superfície problemas antigos dos quais nunca se falou, e que por isso ficaram incrustados e custaram a sair e nunca saíram. nódoas e manchas que nem a máquina mais potente consegue fazer desaparecer. por isso ninguém gosta de ouvir falar em lavar roupa suja.

vamos lavar os nossos problemas, perguntou. vamos lavar roupa suja?

sim, vamos, respondeu. mas só se for na mesma máquina de lavar. a minha roupa e a tua, juntas.
(até ficarem outra vez sujas, e sejam logo logo lavadas em conjunto, para que tudo possa começar de novo, a tempo das nódoas não ficarem para sempre. para sempre, só mesmo roupa lavada e estendida ao sol, juntinha, lado a lado, amigas e companheiras, como nós)

parece-me muito bem - vamos sempre lavar a roupa a tempo de não se estragar.
uma vez tu, outra vez eu, para não fartar.

Campeã, 26 de Agosto de 2008.

domingo, 8 de janeiro de 2012

mete-te no comboio...

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Um dia que tu, leitor, esfalfadíssimo, entediado, moído, quiseres dar tréguas a tantas e tão variadas sobrecargas da vida intensa do século, para arejar o espírito, sai da maçada da conquista do pão e atira-te por este Minho, sem ideia de leres jornais e sem mesmo a companhia de um livro... Encaderna-te modesta e comodamente numa roupa folgada e começa a ver tudo quanto tens na terra – tudo quanto seja digno de ser apreciado, estudado e meditado! Arreda-te da politicagem, que não te adianta caminho (aqui me tens, republicano autenticamente histórico, que troca a mais lírica oratória do António José de Almeida ou todas as ironias picantes do Brito Camacho pela paisagem desta bem fadada região do Norte!)

Mete-te no comboio...

Quem me dera envelhecer (disse eu um dia, a um amigo) num lugar como os que vi, com muitas árvores, muito sol e poucos homens...  
(adaptado de Augusto Soucasaux, Setembro de 1915)


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

confiança!

Notícias do Norte, 1919.

O ano de 2012 não podia começar melhor, com esta comunicação da Câmara Municipal de Braga. Finalmente, depois duma primeira auscultação informal, um concurso de ideias a sério, que visa enformar o projecto arquitectónico de recuperação da antiga fábrica e perfumaria Confiança. Vamos a isso! 
[só até 31 de Janeiro de 2012]



Publicação em destaque

as fontes discretas

já no distante ano de 2009, Maria do Carmo Serén publicou um artigo sobre a minha tese de mestrado, a que chamou de " as fontes discre...