domingo, 30 de setembro de 2012

de mãos dadas

Maria Catarina, 1952.

Não tem mesmo nada a ver comigo, mas chama-se Catarina. 
Talvez em 2152, quando tiverem passado 177 anos do meu nascimento, uma outra Catarina em crise existencial, me encontre num qualquer arquivo da memória, se os houver. Espero mesmo é que encontre calor nas mãos dadas com os seus filhos ou enteados, como algumas mães e alguns pais como José Luís Peixoto tiveram um dia o privilégio de encontrar. "Nesse momento, eu e o André estávamos de mãos dadas. Segurar a pequena mão dele, sentir os seus dedos pequenos a agarrarem a minha mão é uma justificação óbvia para tudo, para a vida. Vale a pena nascer, crescer, vale a pena a adolescência inteira, todos os sacrifícios, vale a pena a responsabilidade, vale a pena sair do desconhecido e ter de estar preparado para o impossível, vale a pena ler obras completas, passar dias fechados apenas a ler, vale a pena comer sopa, aprender a fazer sopa, vale a pena lavar loiça para ter a oportunidade de segurar-lhe a mão."





sexta-feira, 21 de setembro de 2012

discreto e sentimental

esmaltes. vitrine de estúdio fotográfico. Porto, 1999. ©wheelhouse
Nos tempos da Faculdade fiz (ou tentei fazer) um pequeno trabalho sobre o esmalte fotográfico. Digo tentei porque, na verdade, não consegui saber o segredo do procedimento desta técnica de impressão fotográfica dos primórdios da história da fotografia. 
Nesse ano (1999-2000), havia no Porto cerca de nove casas dedicadas à realização de fotografias em esmalte, mas apenas cinco delas se dispuseram, não sem desconfiança, a desvendar parte do mistério. Escusando-se por «os esmaltadores estarem de férias», ou «pelo trabalho que se avoluma para os fiéis» ao chegar o dia de todos os santos (altura que muitos encontram propícia para embelezar a última morada dos entes queridos), ou simplesmente porque «o segredo é a alma do negócio», ficamos aquém das expectativas.

esmaltes. vitrine de estúdio fotográfico. Porto, 1999. ©wheelhouse


Desde a sua invenção que à imagem impressa em esmalte foram oferecidos uma série de destinos: pendurada ao peito (tomando o lugar das silhuetas e das miniaturas pintadas), inserida em jóias que permitiam levar uma imagem dos seus (alfinetes de peito e anéis); ou para incrustar nas campas funerárias. Mas a perpetuação da memória não se limita aos seres amados e perdidos - estas produções discretas e sentimentais, oferecidas à pessoa amada, confirmavam o sentimento de amor e o desejo de o perpetuar para sempre. 
Longe vão os tempos em que oferecer o esmalte à namorada era sinal de compromisso e prova de amor eterno. Convite ao noivado e, depois de consumado, «aliança» que não mais se tira do dedo, o esmalte abre à fotografia uma das suas funções mais alargadas: a de tornar presente, eternamente, o que no tempo flui.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

mademoiselle

1914
O objectivo era ler todos os jornais que conseguisse do passado, mas não tinha sequer tempo de passar os olhos pelos que saíam fresquinhos pela manhã (já do passado também by the way). Ficava muitas vezes distraída com a rugosidade do papel, com o silêncio da sala, com a luz que deixavam entrar da janela. Tentava imaginar como seria naquele tempo enquanto as sombras se passeavam pelo jornal. Quantos olhos e quantas mãos não haviam já passado por aquelas folhas? Quem foi que escreveu aquelas linhas que se lêem quase cem anos depois? Mademoiselle Astory e o seu Gregory estiveram na praça de touros em 1914. Eu estive ali, passeei-me pelo jornal, fotografei-o, fotografei-me, e assim que soube que ias partir saí a correr. Agora espero que aterres, quente, sem receio da fotografia no jornal.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

um segredo

Um segredo by cochinilha
cliché do distincto photographo amador Augusto Chaim, 1914. Um segredo, a photo by cochinilha on Flickr.

para o ano que vem a Illustração Catholica faz 100 anos...

Illustração Catholica, ano 1, n.º 45 (9 Mai. 1914), capa.


"A nova revista que hontem apareceu impressa com toda a perfeição technica ... tem um logar marcado no toucador perfumado das senhoras... ao mesmo tempo que pela sua excepcional barateza fica ao alcance das bolsas mais modestas."
julho de 1913


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

uma flor

uma flor by cochinilha
uma flor, a photo by cochinilha on Flickr.
"A venda das flores. Lisboa presenceou ha dias um espectáculo summamente bello e comovedor. As senhoras da capital n’uma missão sublime de altruísmo e amor patriótico, percorreram as ruas offerecendo flores á venda, cujo produto revertia para os feridos da guerra."
março de 1917

A iniciativa, aconteceu em dois momentos diferentes: em Março de 1917 e, em Abril de 1918. A "festa do sorriso e da flor", que foi, em 1918 promovida por Veva de Lima, encheu a baixa lisboeta de senhoras elegantes que vendiam e colocavam flores artificiais na lapela dos casacos de senhores.
A venda da flor também se fez em Braga, em 25 de junho de 1917: "logo de manhã, as treze zonas em que a cidade fora dividida, foram occupadas por grupos de elegantes damas, que gentilmente iam condecorando toda a gente, recebendo em troca os donativos que cada um podia dispensar".


Ilustração Portuguesa, Abril 1918.



domingo, 16 de setembro de 2012

Braga em Lisboa

Colecção de fardamentos, António Passaporte, 1944.
Encontrei um dia num livro emprestado sobre Lisboa um post-it amarelo que lembrava: sem referências a Braga! Hoje lembrei-me do dono do livro quando procurava imagens de Braga no Arquivo Fotográfico de Lisboa
A palavra aparece em 310 registos: em imagens de Teófilo Braga, em fotografias de ruas cuja toponímia retém o apelido Braga, em reproduções de retratos em que o assunto é alguém da família Braga... e nos inúmeros retratos da colecção de fardamentos do Estado Novo realizados por Passaporte e repescados pelos Encontros da Imagem para a exposição "Velhas fardas - Estado Novo" (1998).
Sim, confesso que depois de me ter perdido a ver quase todas as imagens, me apercebi de que havia de existir um campo de pesquisa por "cidade". E lá estava: 50 imagens de Braga em Lisboa (incluindo fotografias de Bragança)...
Casa dos Coimbras (em Braga), Porfírio Pardal Monteiro, ca. 1920.


(um dia, ainda hei-de procurar com o dono do livro a cidade de Lisboa em Braga)


sábado, 15 de setembro de 2012

história da fotografia em Portugal


Nota prévia da dissertação de mestrado de Paulo Ribeiro Baptista, 2004.

Quando vejo estas palavras todas juntas - história+fotografia+portugal - tenho a mesma sensação que tenho quando leio - Catarina.  Identificação e pertença!
Têm 8 anos as palavras de Baptista - cuja tese foi já publicada em formato livro  - e continuam, infelizmente, actuais (ressalvem-se raras excepções e a inclusão da disciplina de história da fotografia em alguns planos curriculares nacionais)...



terça-feira, 11 de setembro de 2012

a beleza da transformação


Há pouco mais de dois meses que pensamos (entre outros) na acção do tempo sobre a imagem fotográfica. Tudo porque, tal como as pessoas, também as imagens do passado fixadas pela fotografia se desvanecem com o passar do tempo e envelhecem. 
O tempo pode inclusivamente agir de modo a alterar os códigos simbólicos que presidiram ao acto original e significar tornar os vestígios do passado ininteligíveis - o que dificulta a compreensão do seu significado cultural. Simultaneamente, a metamorfose do objecto físico instaura uma nova leitura sobre a obra que, perdendo parte do seu valor de referência, ganha uma estética nova, inesperada, espontânea... tão assustadora quanto bela...

[o arquivo aliança na universidade, julho 2012]

domingo, 2 de setembro de 2012

fundo alvão

Construção do Caminho de Ferro Entre Douro & Minho, Alvão.

A documentação do fundo Alvão compreende 22145 documentos fotográficos [finais do séc. XIX- déc. de 60 do séc. XX] relativos a levantamentos da construção da linha férrea, da área vinhateira do Douro, equipamentos e acontecimentos sociais, paisagens, usos e costumes do Minho e Douro Litoral, entre retratos de estúdio.

*
A Casa Alvão foi fundada em 1901 por Domingos do Espírito Santo Alvão (1869-1946), à rua de Santa Catarina, na cidade do Porto. 
Antes de ter entrado, na viragem do século, para o já conhecido estabelecimento ao n.º 120 da rua de Santa Catarina que era propriedade de Leopoldo Cyrne - o Foto-Velo Clube - Alvão trabalhou para a Casa Biel (à rua do Bolhão) e passou breve período de estágio em Madrid. Alvão "habituou os portuenses às suas fotografias de artistas, senhoras e homens da sociedade que captava no Teatro Príncipe Real ou nos salões do burgo, expondo-as nas vitrinas da Tabacaria Africana, ao cimo da Rua de 31 de Janeiro".

*
O espólio da Casa Alvão, adquirido a Arnaldo Soares em 1981 pelo Instituto Português do Património Cultural (IPPC), ficou temporariamente depositado no Museu Nacional Soares dos Reis, antes de ser transferido para o  A.N.F. (1988). Com a extinção do Arquivo Nacional de Fotografia, foi transferido para o Arquivo de Fotografia do Porto, do Centro Português de Fotografia (1998), à altura situado no Palacete de Vilar d’ Allen. Em 2001 toda a documentação foi transferida para a sede definitiva do CPF. 
Centro Português de Fotografia é responsável por um total de 67 fundos e colecções. 

Publicação em destaque

as fontes discretas

já no distante ano de 2009, Maria do Carmo Serén publicou um artigo sobre a minha tese de mestrado, a que chamou de " as fontes discre...